O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva chamou de
“enrascada” o momento vivido pela presidente Dilma Rousseff (PT), que enfrenta
altos índices de rejeição e manifestantes que pedem seu impeachment. Lula,
contudo, disse que a petista pode contar com o apoio dele e da classe
trabalhadora, mas cobrou ações que evitem a aprovação do projeto de lei (PL)
4330, que permite a terceirização de todos as atividades de uma empresa, em
discussão no Congresso Nacional.
“Dilma, conte conosco para qualquer coisa, mas, por favor,
tente fazer com que o Congresso Nacional respeite as conquistas históricas da
classe trabalhadora brasileira. É o mínimo que nós queremos que aconteça neste
País”, disse Lula na cerimônia de abertura do 9º Congresso Nacional dos
Metalúrgicos da Central Única dos Trabalhadores (CUT), na noite desta
terça-feira, em Guarulhos (Grande São Paulo).
Em seu discurso, Lula criticou reportagem publicada pelo
jornal Folha de S.Paulo que afirma que, segundo pesquisa feito pelo Instituto
Datafolha, a rejeição a Dilma prejudica a sua imagem. De acordo com o
ex-presidente, a petista pode ter a certeza de que pode contar sempre com o
apoio da CUT e do PT. “A Dilma faz parte de um projeto.
Nós fazemos parte de um
projeto. Se esse projeto não der certo para a Dilma, não deu certo para nós”,
declarou. “Agora, companheira Dilma, eu queria te dizer uma coisa. Se tem gente
que vai para a rua para te defender e te ajudar a sair dessa enrascada que nós
estamos, é essa gente aqui”, disse.
O ex-presidente voltou a dizer que militância não deve temer
ou criticar os protestos contra o governo – como aqueles que ocorreram em 15 de
março e 12 de abril –, mas condenou o excesso de “pessimismo” dos
manifestantes. Ele também defendeu o ajuste fiscal prometido pelo governo e
disse que um dia os opositores ainda vão agradecer Dilma “de joelhos” pelas
medidas que tomou de combate à corrupção.
Terceirização
Para Lula, a derrubada do projeto de lei que regulamenta a
terceirização é uma “questão de honra” para os trabalhadores.
“Não deixar aprovar o projeto de lei 4330 é uma questão de
honra da classe trabalhadora. A CLT (consolidação das leis do trabalho), com
todos os defeitos que tem nos seus 60 anos de existência, é uma conquista do
povo brasileiro”, afirmou o ex-presidente, que ainda aproveitou para alfinetar
o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
“Nós não queremos que
as empresas passem a utilizar quadro de mão de obra escrava, como no final do
século passado. Porque a conquista que tivemos aqui foi com muita luta.
Certamente o senhor Eduardo Cunha não sabe. Certamente outros deputados também
não sabem. Temos que conversar com todos eles e mostrar efetivamente o que
significa efetivamente a aprovação dessa lei”, disse Lula.
O texto-base do PL 4330, que permite a terceirização de
todos os setores de uma empresa, foi aprovado no último dia 8 na Câmara – foram
324 votos a favor, 137 contra e 2 abstenções. Na ocasião, PT, PCdoB e PSOL
orientaram seus parlamentares e votar contra a proposta. Atualmente, apenas
atividades secundárias, chamadas atividades-meio, podem ser terceirizadas – é o
caso, por exemplo, de serviços de limpeza e segurança –, e o PL 4330 libera
também a terceirização das atividades-fim.
A discussão foi retomada nesta terça-feira na Câmara, com a
aprovação de um texto que impede a terceirização de atividades-fim em empresas
estatais. A votação de outras mudanças propostas será retomada amanhã. Depois,
o PL segue para aprovação no Senado e ainda terá que passar pela sanção ou veto
da presidente Dilma Rousseff (PT).
A proposta é duramente criticada pelas centrais sindicais,
que afirmam que a terceirização promove a precarização do trabalho, bem como o
achatamento dos salários. Os empresários, por outro lado, argumentam que a
regulamentação da terceirização é necessária para aumentar a competitividade.
Fonte:Terra