A ideia de que os homens são mais infiéis do que as mulheres
já não é uma percepção tão apurada nos dias de hoje. Entre os mais novos, a
porcentagem daqueles que assumem que traem costuma ser bem parecida nos dois
sexos.
"A traição entre homens e mulheres é similar nos casais
jovens, exceto em países asiáticos, onde o valor da mulher é baseado na pequena
quantidade de experiências sexuais ou virgindade", explica a pesquisadora
Pepper Schwartz, professora de Sociologia da Universidade de Washington, nos
Estados Unidos.
Segundo Pepper, que é coautora do livro "The Normal
Bar: The Surprising Secrets of Happy Couples" ("O Padrão Normal: Os
Surpreendentes Segredos dos Casais Felizes", em tradução livre, sem edição
em português), baseado em dados de cerca de 100 mil pessoas, entre os mais
velhos, sobretudo depois dos 40 ou 50 anos, o comportamento fica acentuadamente
mais frequente entre os homens. "A traição masculina é três a quatro vezes
mais comum nesses casos", afirma.
Os poucos números que existem no Brasil a esse respeito
corroboram as observações da professora norte-americana. Na faixa etária acima
dos 60 anos, 66,2% dos homens admitiram ter sido infiéis pelo menos uma vez na
vida contra 21% das mulheres, conforme dados do levantamento Mosaico Brasil,
com 8.200 entrevistados, realizado em 2008, que está sendo atualizado.
Já entre os indivíduos de 18 a 25 anos, a diferença diminui
consideravelmente: 49% das mulheres dizem ter traído em comparação a 65% dos
homens na mesma idade. No site de relacionamentos extraconjugais Ashley
Madison, com 3 milhões de usuários no Brasil, há uma mulher para cada homem
cadastrado na faixa etária dos 20 aos 40 anos.
Segundo Eduardo Borges, diretor geral da rede no Brasil, em
2011, no início das atividades, a porcentagem de homens nessa faixa ainda era
mais alta, em torno de 65%. "Conforme o site foi crescendo, percebemos um
aumento de mulheres procurando pelo serviço", diz.
Porém, entre os mais velhos cadastrados no Ashley Madison, a
infidelidade continua sendo um comportamento predominantemente masculino.
"A partir dos 50 anos de idade, temos 14 homens para cada mulher",
diz Borges.
Infidelidade feminina
Se as mulheres mais jovens têm quase a mesma tendência a
serem infiéis que os homens, isso se deve, principalmente, a maior igualdade
entre os gêneros, conquistada nas últimas décadas. Com maior autonomia e
liberdade, ficou mais fácil alimentar os anseios e desejos.
"Hoje em dia, elas têm muito mais oportunidades e
possibilidades, inclusive no que diz respeito à busca por uma vida afetiva e
sexual satisfatória", afirma a antropóloga Maria Silvério, investigadora
do CRIA (Centro em Rede de Investigação em Antropologia), em Lisboa (Portugal),
e autora do livro "Swing: Eu, Tu...Eles" (Chiado Editora).
Maria conta que, antigamente, muitas mulheres permaneciam
casadas porque não tinham outra opção, não trabalhavam nem tinham recursos
próprios e suas vidas estavam inteiramente atreladas à do marido. "Isso,
provavelmente, dificultava a infidelidade feminina", acredita.
As leis que facilitaram o divórcio e descriminalizaram o
adultério, em diferentes partes do mundo, também contribuíram para diminuir o
medo delas de trair. Mas não foi apenas isso que mudou. "As mulheres
viajam mais, estão mais no escritório e têm oportunidade de encontrar alguém,
mantendo essa experiência longe dos seus maridos e de suas famílias",
acrescenta Pepper Schwartz.
Entre os casais homossexuais, a pesquisadora norte-americana
observa que os homens tendem a permitir com mais facilidade relações sexuais
extraconjugais. Já as lésbicas costumam ser menos propensas a aceitar esse
comportamento. "Se elas traem, é muito mais provável que seja sério e se
transforme em uma relação concorrente à vida do casal", diz Pepper.
Há casais, porém, em que as pessoas envolvidas têm relações
extraconjugais e isso não significa infidelidade. Depende do acordo que o casal
estabeleceu. Se o combinado é que cada um pode ter parceiros fora do
relacionamento, não há traição.
Quem trai?
Não se pode traçar um perfil de indivíduo mais suscetível a
ser infiel. Porém, o médico e psicanalista Mauro Hegenberg, supervisor do NAPC
(Núcleo de Atendimento e Pesquisa da Conjugalidade e da Família) do Instituto
Sedes Sapientiae, afirma que hábitos familiares
e culturais induzem a comportamentos que se repetem. "Por conta disso,
mesmo em casamentos onde a convivência vai bem, a infidelidade pode
ocorrer", diz.
No estudo para o livro "The Normal Bar", Pepper e
os autores Chrisanna Northrup e James Witte apuraram que 27% dos casais mais
felizes também traíram. Os motivos alegados foram variados, desde a necessidade
de aventura ou um novo parceiro até a vontade de se sentir sexy. "Algumas
vezes, isso não tem nada a ver com a condição do casamento, se é bom ou
ruim", fala Pepper.
Nas pesquisas do site Ashley Madison, segundo Eduardo
Borges, fazer sexo com uma mulher mais jovem é o objetivo número um dos homens
inscritos. Entre o público feminino, os motivos para a infidelidade, além do
sexo, vão desde vingança à carência de afeto.
Apesar de estarem se igualando nos números, pelo menos entre
as novas gerações, as puladas de cerca não são vistas da mesma forma em ambos
os sexos.
"A infidelidade masculina ainda é mais aceita do que a
feminina, pois quando o homem trai isso é considerado normal", diz Maria
Silvério. Já os deslizes das mulheres nem sempre são socialmente perdoáveis na
mesma proporção que os dos homens. "O peso de ser 'corno' no Brasil ainda
atua com muita força sobre os homens, como uma ameaça à masculinidade",
explica a antropóloga.
Fonte:www.mulher.uol.com.br