O Piauí foi destaque na edição do “Profissão Repórter” desta
terça-feira (21/07), que mostrou uma pesquisa feita pelo IBGE, que coloca o município
de Alagoinha do Piauí como recordista em número de analfabetos do Brasil. O
programa global mostrou que o dinheiro para alfabetizar adultos vem do Governo
Federal e o Ministério Público investiga a utilização desta verba na cidade.
“Muito provavelmente esse índice constatado pelo IBGE não
condiz com a realidade. Trata-se, muito provavelmente, de um número que é
utilizado também para a prática de fraudes, porque essa verba relativa ao
Brasil Alfabetizado é proporcional ao número de analfabetos do município”,
explicou a procuradora federal Maria Clara Lucena.
Por ser o município com o maior número de analfabetos, no
ano passado Alagoinha tinha também o maior número de alfabetizadores. Eram 42
professores, que ganhavam R$ 400 por mês, além dos oito coordenadores, que
recebiam R$ 600 mensais.
Na investigação, o Ministério Público descobriu que os
coordenadores e alfabetizadores formavam as turmas, mas não ministravam aulas.
Muitos dos que se diziam analfabetos, na verdade, sabem ler e escrever. “Eles
davam seus nomes apenas para fazer número. Para que esses alfabetizadores e
coordenadores pudessem formar turmas e assim receber suas bolsas”, explica a
procuradora.
O programa é federal, mas cabe ao município acompanhar a
aplicação do dinheiro. Nas ruas, a população revela que era convidada a
participar do programa, apenas para que as turmas fossem preenchidas, mas o
secretário municipal de Educação, Márcio Ribeiro, afirma que não tem
conhecimento da prática.
Ao fim do curso, os educadores tinham que apresentar um
relatório sobre o desempenho de cada aluno. Os documentos apresentados são
todos exatamente iguais. Márcio Ribeiro diz não estranhar o fato dos relatórios
dos alunos serem iguais. “O município é um município muito pequeno. Esses
professores se encontram diariamente. Nessas conversações eles podem ter
chegado a um comum e tinham o modelo dos relatórios”, diz Márcio Ribeiro.
A coordenadora do projeto no município não atendeu as
ligações. Por email, o Ministério da Educação disse que cortou a verba do
programa até a apuração das denúncias.
Em Alagoinha, 73% das crianças e jovens até 19 anos estão
matriculados nas escolas, mas 18% dos alunos desistem antes de terminar o
Ensino Médio. O trabalho no campo e o casamento tiram os adolescentes da escola
antes de concluírem os estudos.
Pessoas que conhecem letras e números, mas não conseguem ler
ou fazer contas são chamadas de analfabetas funcionais. Uma pesquisa mostra que
esta é a condição de 27% dos adultos brasileiros. “Geralmente se somam
fragilidades uma em cima da outra. Ele vem da família mais frágil, a mãe não
tinha escolaridade, não pode dar atenção, ele foi para a escola mais fraca, foi
ficando para trás e o professor não deu tanta atenção para ele. Reprovar também
não é a solução. Você está penalizando a criança por uma falha que é do sistema
como um todo. Vamos focar em fazer ela, de fato, aprender. É possível”, afirma
Ana Lúcia Lima, diretora do Instituto Paulo Montenegro.
Ainda de acordo com a pesquisa feita pelo IBGE, 13 milhões
de brasileiros não sabem ler e escrever. O número representa 8,7% da população
acima de 15 anos. Isso significa que o Brasil não vai cumprir um pacto
internacional de reduzir pela metade o analfabetismo de adultos até o fim do
ano.
Fonte: Profissão Repórter (GLOBO)