“O leite materno é o primeiro alimento funcional do
mundo", assegura Mário Cícero Falcão, especialista em nutrologia
pediátrica do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas de São Paulo. Isso
significa que a primeira fonte alimentar dos bebês não tem apenas a função de
nutri-los mas também de afastá-los de doenças. Entre os efeitos protetores já
estabelecidos pela ciência estão prevenir infecções e diarreia, reduzir o risco
de obesidade e garantir um desenvolvimento cerebral saudável.
Mas para que todos esses benefícios sejam ainda mais
potencializados, é importante que o bebê consuma o leite materno de forma
exclusiva até os 6 meses de vida e complementado por outros alimentos até os 2
anos ou mais, como preconiza a Organização Mundial da Saúde (OMS). No entanto,
pelo menos aqui no Brasil, essa não é a realidade de muitos pequeninos. Foi o
que constatou a enfermeira Floriacy Stabnow Santos em seu estudo de doutorado,
feito na Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo,
no interior paulista.
Na pesquisa, Floriacy avaliou 854 meninos e meninas com
menos de 1 ano de idade que vivem na cidade de Imperatriz, a segunda mais
populosa do Maranhão. "Entre as crianças de 0 a 6 meses, a prevalência
daqueles que mamavam no peito foi de 32%", conta a professora da
Universidade Federal do Maranhão. Considerando apenas os pequenos de 6 meses,
por exemplo, esse índice baixou para 2,8%. "Com isso, descobrimos por que
há tantos casos de diarreia infantil no município", revela a estudiosa.
E não pense que em outras regiões do país esses números são
diferentes. De acordo com o Ministério da Saúde, em 2008, apenas 41% das
crianças eram amamentadas até os 6 meses. Mas, segundo estimativas do governo,
essa taxa vem crescendo nos últimos anos. Que bom! Não faltam motivos para
oferecer leite materno o máximo de tempo possível para os bebês. Confira a
seguir as benesses desse alimento tão completo.
PREVENIR CÂNCER
"Existe um vínculo bem estabelecido entre aleitamento
materno e menor incidência de câncer na infância", conta o pediatra Mário
Cícero Falcão, especialista em nutrologia pediátrica do Instituto da Criança do
Hospital das Clínicas de São Paulo. Segundo ele, vários estudos grandes já
associaram a amamentação a um menor risco de os pequenos desenvolverem a
doença, principalmente os linfomas e a leucemia, os mais comuns nessa fase.
O elo foi reforçado recentemente por uma pesquisa feita por
cientistas da Universidade de Haifa, em Israel, junto com o Ministério Público
do país. O objetivo era investigar a relação entre o consumo de leite materno e
a menor incidência de leucemia em crianças. Após revisar 18 estudos, os experts
notaram que todos os trabalhos apontavam que os pequenos que amamentavam por 6
meses ou mais tinham uma probabilidade 19% menor de ter leucemia em comparação
com aqueles que mamavam pouco ou nem chegavam a fazê-lo.
Isso se deve ao fato de o leite materno ser rico em
substâncias anti-inflamatórias, que combatem certos fatores do organismo
responsáveis por provocar inflamações e que estão entre as causas do câncer.
"Uma das substâncias envolvidas nisso é o DHA, um ácido graxo da série do
ômega-3", informa Falcão. No entanto, vale lembrar que, para fornecer essa
gordura ao seu bebê pelo leite, a mãe precisa ingerir alimentos que são fontes
do nutriente - nesse caso, os protagonistas são peixes de águas frias e profundas,
como o atum e a sardinha.
AFASTAR INFECÇÕES
Coloque nessa lista as infecções de ordem respiratória, como
a asma e a pneumonia; as de ouvido, caso da otite; e as que atingem o sistema
digestivo. O efeito protetor ocorre graças a anticorpos e células de defesa que
a mãe passa para o filho pelo leite materno.
BLINDAR O CORAÇÃO
Cientistas da Universidade de Granada, na Espanha, lideraram
uma pesquisa cujo objetivo era investigar outros trabalhos que haviam analisado
a relação entre a amamentação e a proteção cardiovascular na mãe e no bebê.
Fora revisados, no total, 56 estudos. A conclusão foi que o leite materno tem
efeitos positivos na pressão arterial da mãe e da criança no curto e no longo
prazo. "Isso também está relacionado com os efeitos anti-inflamatórios do
leite materno", diz o pediatra do Instituto da Criança.
EVITAR A DIARREIA
Esse problema - que é uma das principais causas de morte e
internação de crianças - está relacionado, entre outras coisas, a um sistema
imunológico enfraquecido. "No leite materno, existem bactérias que são
protetoras do intestino e reforçam, portanto, as defesas", explica a enfermeira
Floriacy Stabnow Santos, professora da Universidade Federal do Maranhão.
DESENVOLVER O SISTEMA NERVOSO
De novo, a substância responsável por esse benefício é o tal
DHA. É que ele participa da formação das células nervosas e facilita a
comunicação entre elas. Essa ação é importante principalmente nos primeiros
cinco anos de vida, quando a maior parte do cérebro é formado. E quanto antes o
ácido graxo entrar na alimentação do bebê, melhor.
TDAH
O leite materno também estaria relacionado a um menor risco
de a criança desenvolver transtorno de déficit de atenção e hiperatividade
(TDAH). Pelo menos é o que demonstrou um estudo liderado por pesquisadores da
Universidade Tel-Aviv e do Centro Médico Rabin, ambos em Israel. Após analisar
voluntários mirins que sofriam com esse distúrbio e compará-los com quem não os
apresentava, os cientistas viram que os pequenos que tinham TDAH eram menos
propensos a amamentar. Os autores especulam que o aleitamento tenha um efeito
protetor contra o problema. "Mas esse não é um resultado definitivo, isso
ainda está sendo estudado", pondera Mário Cícero Falcão.
REDUZIR O RISCO DE OBESIDADE
Isso mesmo! Estudos mostram que crianças que amamentam estão
bem menos propensas a se tornar obesas - o que afasta, por consequência, males
como diabetes e doenças cardiovasculares. O efeito também está relacionado com
a ação anti-inflamatória do leite materno.
PROTEGER CONTRA OS EFEITOS DA POLUIÇÃO
Foi o que mostrou uma pesquisa da Universidade do País
Basco, na Espanha. Os estudiosos notaram que os bebês que amamentavam no mínimo
até os 4 meses de vida não sofriam os prejuízos causados por poluentes aos
sistemas motor e neurocomportamental. É provável que isso também se deva ao
fortalecimento do sistema imunológico provocado pelo leite materno.
Fonte: M de Mulher