O câncer de mama há quarenta anos na
maioria das mulheres, talvez não haja doença mais assustadora. Você dirá que
todos os tumores malignos o são, mas nenhum outro aflige tanto o imaginário
feminino.
Uma pessoa com câncer de estômago, por exemplo, costuma ter
desconforto depois das refeições, sensação de plenitude gástrica, diminuição do
apetite e até perda involuntária de peso. Ela sente que não está bem. Quando é
feito o diagnóstico, fica com medo, mas experimenta um certo alívio, porque
poderá ser operada e livrar-se dos males que a fazem sofrer.
De fato, quando a cirurgia corre bem, os sintomas
desaparecem e tudo volta ao que era antes. A única sequela visível será a da
cicatriz no abdômen; mutilações internas como a perda do estômago são
imperceptíveis.
No câncer de mama, ao contrário, a mulher não está doente.
Simplesmente palpou um caroço no seio na hora do banho ou recebeu a notícia do
nódulo num ultrassom ou mamografia de rotina. Por mais que o médico procure
tranquilizá-la dizendo que a biópsia com agulha é procedimento rotineiro nesses
casos, a insegurança e o medo se instalam em seu espírito.
Perde-se a conta de quantas pacientes tem a reação de chorar ao ouvir que o
resultado era negativo. Uma notícia que deveria trazer-lhes alívio é capaz de
provocar descontrole emocional na vigência de uma crise de ansiedade.
Quando o resultado é positivo, o quadro adquire contornos
mais dramáticos. Mulher nenhuma que passou por essa experiência é capaz de
esquecer esse momento; lembranças carregadas de emoção ficam gravadas para
sempre na memória.
Fonte: Drauzio Varella