A tricotilomania não se encaixa propriamente na categoria
“queda” de cabelos, porque nesse caso os fios não caem: eles são arrancados.
Trata-se de um comportamento compulsivo, muitas vezes associado a quadros de
stress, depressão e ansiedade, que leva a pessoa a puxar e remover os fios do
próprio cabelo.
O problema é mais comum – e perigoso – do que parece.
Acredita-se que até 4% da população pode ser afetada (as mulheres são quatro
vezes mais propensas a desenvolver o quadro do que os homens). Nos casos em que
os fios arrancados são ingeridos (chamado de tricofagia), as complicações de
saúde podem ser bastante severas, inclusive com risco de morte.
O perigo é ainda maior porque a maioria dos afetados sofre
calada. O constrangimento de desenvolver áreas visíveis de calvície junta-se à
vergonha de admitir que foi a própria pessoa que arrancou os fios, o que pode
levar ao isolamento social e agravar ainda mais o problema.
Não é um hábito inofensivo, não é frescura, não é “pra
aparecer”, não é falta do que fazer. Tricotilomania é coisa séria. E tem
tratamento.
Como acontece
Não se sabe exatamente que fatores interferem no surgimento
da tricotilomania. Algumas pessoas manifestam o comportamento desde crianças,
outras passam a arrancar os fios após algum acontecimento importante,
estressante ou traumático. Acredita-se que fatores genéticos também possam ter
alguma influência no surgimento do distúrbio.
Apesar das associações frequentes com stress e ansiedade, em
grande parte dos casos o comportamento aparece em situações entediantes ou de
forma “automática”, como um hábito, sem muita atenção dirigida ao que se está
fazendo (os fios são puxados distraidamente enquanto a pessoa estuda, assiste
televisão, fala ao telefone ou lê um livro, por exemplo).
Em outras situações o tricotilomaníaco procura por fios
dentro de um critério específico (numa área definida da cabeça, com uma textura
ou comprimento determinados, que pareçam arrepiados ou fora do lugar, que sejam
brancos ou mais claros/escuros que os demais). Muitas pessoas dizem sentir
tensão e ansiedade, seguidos por um grande alívio ao arrancar os fios e, mais
tarde, pela culpa por tê-lo feito – o que aproxima o quadro dos padrões
observados em um vício.
Normalmente o comportamento se manifesta quando o indivíduo
está sozinho, e nem sempre o alvo são os cabelos: os pelos de outras partes do
corpo também podem ser arrancados (sobrancelhas, cílios, barba, etc).
O distúrbio é motivo frequente de constrangimento social,
seja pelas críticas de familiares e amigos (que muitas vezes não entendem que o
comportamento é um distúrbio, e não uma escolha simples e fácil de interromper),
seja pelo impacto visual gerado quando as áreas de raleamento ou ausência total
de cabelos ficam evidentes. É comum que o tricotilomaníaco tente esconder os
sinais, seja usando lenços, chapéus ou outros artifícios para cobrir as áreas
mais danificadas do couro cabeludo, seja deliberadamente arrancando fios de
áreas diferentes da cabeça para distribuir o efeito e torná-lo menos
perceptível.
Muitas pessoas “brincam” com os fios arrancados,
enrolando-os nas mãos, analisando-os ou levando-os à boca, podendo até mesmo
engolir os fios. Esse quadro é chamado de tricofagia, e pode levar a vômitos,
dores abdominais, sangramentos internos e obstruções gastrointestinais severas,
que às vezes exigem intervenção cirúrgica e podem até ser fatais se não forem
devidamente diagnosticadas a tempo.
Os fios arrancados podem levar de alguns meses até muitos
anos pra se recuperarem completamente (dependendo do comprimento do seu cabelo
e da velocidade com que ele cresce). Se o trauma causado ao folículo for muito
grande (o que pode acontecer especialmente com o arrancamento repetido dos fios
durante muito tempo), pode ser que ele pare totalmente de produzir cabelo.
Encarando o problema
O primeiro passo é reconhecer o que está acontecendo. O
indivíduo precisa aceitar a sua condição e entender que se trata de um
comportamento compulsivo, sério e que requer tratamento.
Algumas pessoas tentam controlar o quadro por conta própria,
mas é importante dizer que não conseguir parar sozinho não é um fracasso.
Controlar um distúrbio apenas com a própria força de vontade pode ser possível,
mas muitas vezes é o caminho mais difícil e mais sofrido. Pedir e aceitar ajuda
podem ser os passos mais importantes para que alguém consiga finalmente dominar
o problema.
Muitas pessoas procuram atendimento dermatológico para
tratar de uma suposta queda de cabelos, mas se sentem envergonhadas de informar
que foram elas mesmas que arrancaram os fios, o que pode levar a diagnósticos
errados e tratamentos complicados, caros, com risco de efeitos colaterais
sérios, e ainda por cima ineficientes, pois não tratam a causa real do
problema. Se é o seu caso, lembre-se que mentir para o seu médico só acaba
fazendo mal a você, e afastando ainda mais o dia em que você vai conseguir se
tratar de verdade.
Tratamento
O tratamento considerado mais efetivo atualmente é a terapia
cognitivo-comportamental, realizada por psicólogos especializados. Existem
vários métodos dentro desta categoria, mas de maneira geral identificam-se os
fatores que podem desencadear o impulso de arrancar os cabelos (horas do dia,
acontecimentos, sensações, estados mentais, locais específicos, etc) e então
são adotadas alternativas para abordá-los, substituindo a resposta automática
de puxar os fios por comportamentos inofensivos.
Nos casos mais severos e associados a outros distúrbios é
possível buscar tratamento psiquiátrico, com administração de antidepressivos,
ansiolíticos e outros medicamentos relacionados, mas na maioria dos casos o
tratamento psicológico já apresenta resultados bastante satisfatórios.
Fonte: chegadequeda