O primeiro passo que alguém em busca de um corpo mais magro deve tomar é responder à seguinte pergunta: “por que eu quero emagrecer?”. Essa é a proposta de Antonio Herbert Lancha Jr., professor de nutrição da Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo (USP) e um dos maiores pesquisadores do país sobre emagrecimento. A proposta é mudar a forma como as pessoas buscam perder peso e ajudá-las a atingir seus objetivos sem se tornarem reféns do tal efeito sanfona.
Foi debatido o emagrecimento em tempos de radicalismos nas dietas, conversamos com Lancha sobre a opinião dele acerca dos caminhos – e dos atalhos errados – de quem deseja eliminar os quilos extras. Se você está nessa luta, vale conferir o que ele tem a dizer e repensar as suas atitudes à mesa e, acredite, até nas redes sociais!
1. Por que você é contra dietas?
Primeiro porque é cientificamente comprovado que dieta faz as pessoas engordarem. O porquê disso: quando você faz dieta, você se encara dentro de uma gaiola. E como um bicho aprisionado, o seu sonho é sair dessa gaiola. Você não vê nesse comportamento algo que se mantenha.
Então, por que dieta não funciona? Porque ela não é um modelo sustentável, que vai se manter a médio e longo prazo. Ela é uma coisa que se faz por um período e, depois, você interrompe aquele comportamento. E, normalmente, você volta para o padrão anterior. Tem uma frase do Einstein muito boa para isso: “É no mínimo estúpido você repetir todo dia a mesma coisa e esperar que algo diferente aconteça”. Portanto, quando você faz dieta, sai dela e volta para o padrão anterior, você vai retornar ao ponto de origem ou a um ponto ainda mais atrás.
2. E as dietas que visam uma mudança de hábitos, como a Whole 30, elas também têm esse efeito?
Eu acredito muito num princípio chamado mindset, ou seja, você pegar uma pessoa, entender as características dela, o que faz o comportamento dela deixá-la mais gorda e mudar isso. A partir daí é que você tem algo mais duradouro e sustentável.
3. E, na sua opinião, qual o maior erro das pessoas que tentam emagrecer por meio de dietas?
É o fato de você não assumir a responsabilidade. Você terceiriza a responsabilidade. É como aquela criança que bate a cabeça na mesa, e a mãe vai lá e fala “mesa boba”. Mas a mesa estava parada! A criança que foi lá e bateu a cabeça. Ou seja, a partir do momento que você assume as responsabilidades e as consequências do seu comportamento, você consegue mudar a sua rota. A dieta é uma forma artesanal de ter um comportamento artificial, que leve você a um ponto que você acha que é o ideal, mas que não consegue ser sustentado, pois ele não muda a essência da causa da obesidade.
4. Então, qual é o primeiro passo para quem quer eliminar os quilos extras?
O primeiro passo é responder a uma pergunta muito simples: “por que você quer emagrecer?”. Mas responder isso com consistência. Se a resposta for “ah, para que eu não use a canga na praia”, saiba que isso não vai durar. A resposta tem que ser algo muito forte, e eu dou o meu exemplo. A minha principal mudança na alimentação aconteceu quando eu percebi, aos 30 anos, que tinha colesterol alto e que eu não queria tomar remédio, tampouco morrer com 54 anos, como meu pai. Foi aí que eu mudei meu comportamento: passei a ser mais ativo, a ter uma alimentação mais criteriosa e, hoje, meu colesterol é normal.
Portanto, se a pessoa efetivamente quer resolver o problema, o que a motiva? Qual é o fator principal que a faz querer emagrecer? Tem que ser uma coisa forte, e não a ideia do “verão sem canga”. É uma coisa do tipo: “eu quero ver meu neto crescer e entrar na faculdade”, algo que mexa com as emoções.
5. Por que o “verão sem canga” não seria uma motivação?
Porque é uma coisa que tem início, meio e fim. O verão acaba no começo do outono e, depois, não tem mais por que manter aquele comportamento.
6. Como você vê o movimento crescente de incentivar que as meninas plus-size aceitem seus corpos como eles são? Uma pessoa pode ser saudável e gordinha ao mesmo tempo?
É mais saudável uma pessoa se manter estável, mesmo que ela tenha um percentual de gordura maior. Se ela tiver os índices bioquímicos ‘ok’ e for ativa, é melhor se manter naquele padrão do que ficar flutuando entre emagrecer e engordar. Mas também, é sabido que essa mesma pessoa mais magra tem fatores de risco menores e que ela viverá mais – teoricamente – do que se tiver um percentual de gordura mais alto.
7. A gente tem visto muito nas redes sociais um movimento de documentar a dieta e a rotina de treino. Isso pode ajudar quem quer emagrecer?
Tem um estudo que saiu recentemente no The Lancet que diz o seguinte: a documentação ajuda, desde que acompanhada de um projeto. Mas somente a documentação, não. Um desafio que eu vejo é que as pessoas hoje se relacionam muito mais com a comida que elas fotografam do que com aquilo que elas comem. É muito frequente você ver em restaurantes as pessoas mais preocupadas em fazer a foto e postar o que comeram do que elas efetivamente comerem e sentirem o sabor.
E qual o viés que isso gera? Gera o fato de que essa pessoa não está presente naquele momento do consumo. A mente dela está preocupada com o que os outros vão imaginar do post. E um fator muito importante é a sua mente estar centrada no momento do consumo: sentir o cheiro e o sabor do alimento. Os budistas chamam isso de mindful, que é você estar 100% presente no momento que está vivendo ali.
8. Subir na balança todos os dias é cilada ou um bom caminho para a perda de peso?
Grande cilada. Principalmente para as mulheres, que flutuam demais o peso pelas questões hormonais, por retenção de sódio… E isso é normal. É mais importante saber que a flutuação de peso vai acontecer do que querer manter um peso baixo e estável a vida inteira.
Fonte: Boa Forma